segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sociedade dos Poetas Mortos - Uma reflexão pedagógica



                “Tradição! Honra! Disciplina! Excelência!” São os quatro pilares da renomada instituição educacional Welton Academy retratados na produção cinematográficos Sociedade dos Poetas Mortos (1989), dirigida por Peter Weir. O longa-metragem permite-nos uma profunda reflexão sobre os processos educativos baseados numa pedagogia tradicional, entendendo esta como sustentáculo das ramificações positivistas do conhecimento, como o Behaviorismo na Psicologia.
            Contextualizado nos anos 1950, o filme retrata o cotidiano de uma escola extremamente rigorosa e hierárquica no relacionamento professor-aluno onde o princípio da disciplina é o caminho para a excelência e o sucesso. Seus alunos de terno e gravata são imersos nas aulas de latim em que a aprendizagem consistia na repetição de todos os verbos e suas ramificações intermináveis, ou em as aulas de trigonometria precisamente absolutas. Seus professores são os verdadeiros operadores com a missão única de aperfeiçoar e condicionar suas maquinas.
            De acordo com a noção e função da educação, influenciada pelas teorias comportamentalistas desenvolvida a partir da segunda década do século XX, a transmissão cultural dos conhecimentos e dos comportamentos éticos é de total responsabilidade do professor, não cabendo parte alguma aos alunos no “seu”, nesse caso “não-seu”, processo de aprendizagem. É o ambiente escolar o único provedor de estímulos capazes de transformar – mudança permanente/aprendizagem – o indivíduo estritamente moldado e planejado.
            A contratação de um novo professor de inglês John Keating representará o choque entre duas visões educacionais expressas nas discussões behavioristas e construtivistas. Em sua aula inaugural o professor provoca o questionamento de qual o sentido da vida para cada um dos seus alunos. Ele visa que seus alunos encontrem suas respostas em si mesmo, deixando-os pensarem e construírem seus pensamentos e conhecimentos.
A velha noção de poesia milimetricamente calculada entre os eixos da avaliação da perfeição do poema e sua importância obtendo como resultando sua excelência é rasgada e jogada ao lixo, dando espaço para assimilação e acomodação por parte dos alunos dos verdadeiros sentidos da literatura. Nessa perspectiva não compete mais ao professor a responsabilidade da aprendizagem e sim ao aluno total domínio na construção do conhecimento.
É nesse sentido que os alunos reativam as antigas reuniões secretas da Sociedade dos Poetas Mortos com a finalidade de “sozinhos” descobrirem os verdadeiros conhecimentos. Nesse ponto o filme possibilita-nos pensarmos nos equívocos que as teorias construtivistas tiveram nos domínios da educação. Embora não seja a única linha de interpretação, a fundação dessa sociedade secreta equipara-se a idéia de que dado o material inicial (o livro doado e utilizado nos tempos escolares do professor Keating) é suficiente em si para que os alunos sozinhos se guiem na construção do conhecimento e no seu processo de aprendizagem. É essa noção que norteia muita das escolas ditas construtivistas.
Por fim, e não limitando as dimensões do filme nessas poucas linhas, pois além das questões educacionais podemos ainda contemplar-nos com discussões sobre relacionamento pais/filhos, noções de mundo e suicídio; o longa-metragem encerra com a expulsão do professor Keating demonstrando a não aceitação do sistema educacional tradicional, honroso, disciplinar e excelente na aceitação de alternativas para o processo educacional que não corresponde mais as realidades do meio social.

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